quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Senhorinha

.
Não deixe-a cair.


ossos frágeis e trêmulos
entortam a rosa murcha
de novena e devoção

veias trançadas ao caule
seiva de promessas
avessa à calma

Não deixe-a cair.

espinhos beijam a pele
franzida e esculpem
ansiedade em folheado

manto de ouro encobre
o desespero pálido
de milagres perdidos

Não deixe-a cair.

fiéis queimam ao meio-dia
procurando suas causas
nas esquinas de um santo

o Cosme está mais velho

da janela do 570
paro, olho a romaria
e espero

Não deixe-me cair,
Senhorinha.
.

12 comentários:

Mario Vitor disse...

a idade caminha, quase desapercebida.
em cima de pernas que alguns chamam de fé.

Cosmunicando disse...

lindo de arrepiar seu poema... "ansiedade esculpida em folheado na pele franzida" é demais.

Anônimo disse...

Il ne laissairez jamais

Carleto Gaspar 1797 disse...

il c'est moi

omnia in uno disse...

me vidrei hoje numa senhorinha semelhante.

vestida de rosa, toda ela murchou na pilastra da plataforma - flor triste, esperava o trem. mas essa era rasa de fé, sem novena ou devoção. se achegou moço jovem e encostou-se ao seu lado. ele fungou. ela pediu silêncio, olhando-o desde o chão perturbada e os lábios insinuando palavras de ordem.

dentro do vagão, a mil o barulho de velocidade, mas ela pedia silêncio aos técnicos da estação. e se despetalava a cada nova dobra que envelhecia sua testa. o metro parece não fazer curvas, mas ele também faz.

os fiéis sempre procurando suas causas - ou o cordão perdido no labirinto

Adrianna Coelho disse...


meus olhos sem horas
vêm e vêem aqui
o que os enlevam
- elevam...

Anônimo disse...

oi, vc é do rio né? Então, hoje a partir das 21h, no beco das carmelitas, próximo ao beco do rato, tem encontro de poetas: Ratos diVersos. De quinze em quinzes dias alguns poetas se reúnem pra recitar poemas próprios e de outros autores. Microfone aberto para todos. Há algumas semanas eu frequento o lugar, como platéia. Eu não escrevo nada, nem nunca fui ao microfone, mas como vc tem coisas legais aqui no blog, talvez gostasse de ir lá conhecer.
Tá dado o recado. É hoje, na Lapa, beco das Carmelitas, n9. Se houver interesse procure no youtube ou mesmo o blogue do grupo. Se aparecer por lá, faça um sinal.
2. Valeu pelo elogio lá no blogue.
abraços.

Átila Siqueira. disse...

Um belo poema, como sempre. Tu falas muito bem das coisas, do cotidiano e de suas questões de crenças, descrenças e da própria vida enquanto uma busca por algo.

Adoro seus textos. Adoro seus versos.

Um grande abraço,
Átila Siqueira.

Anônimo disse...

assim como a vida?!

pat werner disse...

justement, louis

c'est la vie.

Lualves disse...

Registro minha passagem e meu agrado. Belo poema.

Convido-a a visitar meu canto.

Um abraco...

Lualves

Anônimo disse...

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