domingo, 24 de agosto de 2008



my blueberry nights


sonhei que ruibarbo era um mal do século. fruto da modernidade viscosa, vinha embalado em um papel-filme amarelo, amargo. fecundava as papilas com seu antígeno cínico, deslizando pelas veias num voluptuoso deleite. refluxo auto-imune do tempo, fluido, arrastava a agonia dos homens, cuspia o enfeite. despidos de vaidade, cobertos de barbitúricos, só lhes restava o delírio lúdico que diluía a doença em encanto, transformando ruibarbo num doce fruto da imaginação. o olhar convalescente contraia, então, todas as cores e formas mais sublimes. contemplava o tempo de outrora, redescoberto sem limites. cílios inebriados, verniz nos sapatos, geléia de amora, irmã encontrada. a colher sobre o pote só refletia uma imagem, que ofuscava até a cura vã.